Manifesto

A liberdade é inegociável – Um manifesto pela vida!

“Aquele que botar as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo. ”

Pierre-Joseph Proudhon

Esta frase foi dita por Proudhon no século 19 e em breve completará 200 anos. Poderíamos utiliza-la para afirmar que vivemos de forma controlada, aprisionada há muito tempo e isto não seria nenhum tipo de ilusão ou mentira, mas a utilizamos por sentir que seu significado faz parte do que acreditamos e sabemos, infelizmente, que o controle sobre nossas vidas se dá a muito mais tempo que isto, basta olhar um pouco para a nossa história, só um pouco. Se você estiver do lado de cá da trincheira, conseguirá enxergar e verá que indígenas sãos explorados e dizimados desde a invasão portuguesa no Brasil, você verá que pessoas pretas foram raptadas, violentadas e trazidas para o Brasil para serem escravizadas. Apenas nestes dois exemplos, vemos o quanto a vida longe da lógica da produção, do capitalismo, vem sendo combatida e exterminada.

Existe uma guerra em curso, declarada, séculos atrás. Esta guerra é contra quem vive na mata, junto com a mata, contra quem vive em comunidades e que se apoiam mutuamente, contra aquelas pessoas e culturas que não dão lucro ao lado de lá da trincheira. Esta maldita guerra é contra pessoas e culturas que vivem em outra lógica, a lógica do bem viver, a lógica do aproveitar a vida, de nadar quando bem entender, de vadiar, de ter alegria, de se negar a ser escravizado.

E quando falamos de escravidão, falamos de todas as formas de exploração, de nossos corpos e mentes.

Viver de outra forma, é pura resistência!

Você já pensou sobre como realmente gostaria de viver? Não falamos de umas boas férias ou de um final de semana para recarregar nossas energias, onde na sexta feira você sorri e na segunda se anestesia para suportar a semana que mal começou, muito mal por sinal. Estamos questionando algo para todos os momentos da vida e não somente em momentos pontuais e espaçados. E olha que férias é um privilégio para algumas pessoas, pois a grande maioria trabalha todos os dias para poder, basicamente, comer.

Já conseguiu imaginar uma vida fora da lógica do capitalismo ou uma vida sem obrigações que não nos contempla?

Quando paramos para pensar em como poderia ser nossas vidas, pensamos sempre em coisas simples como poder acordar com tranquilidade e caminhar pela floresta ou pelo nosso bairro, parar e apreciar o nosso entorno, a paisagem ou o mar, conviver em harmonia com os seres que habitam a Terra, colher frutas, conversar com as pessoas que te cercam, ler um livro e se divertir sozinho ou com outras pessoas.

Infelizmente, tudo isso só acontece poucas vezes em nossas vidas e dedicamos a maior parte dela com obrigações diárias. Salas de aula, escritórios, metrô e ônibus lotados, boletos bancários, noites mal dormidas e sempre deixando para viver, o que realmente queremos, quando tivermos mais tempo, mais dinheiro ou aguardando um momento que, provavelmente, nunca chegará.

Vivemos uma vida controlada, lapidada, moldada, requintada, castrada, adestrada. O capitalismo nos tira o brilho, com a ilusão de uma vida feliz. Tira a beleza de tudo e padroniza nossos sentimentos e nossos corpos. É para isto que estamos vivos?

Queremos que todas as pessoas sintam com intensidade e sem pressa: a leveza de uma brisa do mar; o verdadeiro sabor de um alimento recém-colhido; o compasso de uma música até o final; uma lágrima depois de uma perda ou uma dor até que nosso corpo se cure.

Não estamos em exposição ou à disposição. Não temos prazo de validade e não temos limites nas nossas capacidades. Somos seres poderosos e queremos tomar o controle de toda nossa força. Essa vida imposta não vai nos definir, classificar e nos rotular.

Que nossos sonhos e sentimentos possam ser compartilhados com as outras pessoas em relações sólidas de apoio, cooperação e não de competição.

Se eles declararam a guerra, sejamos a resistência e incomodemos sempre que possível!

E a pergunta agora é: Como colocar isto em pratica se mal conseguimos respirar?

Podemos começar com uma simples oportunidade, e se ela não aparecer, podemos construí-la.

Para começar, tenha em mente que todos nós estamos do lado de cá da trincheira e assim, precisamos construir a nossa rede de apoio.

– Plante sua comida se quiser e conseguir! Se não tiver um pedacinho de terra, ou não quiser plantar, compre da vizinhança, de cooperativas, do povo, das feiras de produtoras locais, busque alternativas para sua alimentação, pois o lado de lá sempre nos quis doentes.

– Trabalhe para você mesma! Muitas vezes pensamos que isto é difícil ou impossível, mas muitas pessoas que vivem no Brasil já vivem desta forma, sem patrões ou empregadas em empresas escravagistas. Lembrando que toda empresa é escravagista, pois ela nos explora e rouba nossa vida em troca de migalhas, independente de quanto sejam os salários ou benefícios.

– Apoie as iniciativas feitas por nós mesmas, se não nos apoiarmos o lado de lá ocupará este espaço e lucrará com ele. Então, se tiver que adquirir algo, compre das pessoas da sua comunidade ou troque por algo que você tenha e não usa mais. Lembre-se, nós dependemos umas das outras, o que temos é umas as outras e sem o apoio mutuo nossa luta se enfraquece.

– Quebre bancos! De uma forma ou de outra, quebre bancos. Podemos, desde jamais utiliza-los, montar bancos solidários ou pegar empréstimos e nunca pagar, utilizar cartões de credito, todo seu limite e nunca pagar, em 5 anos seu nome estará limpo novamente. E se for usar o cartão de credito, lembre-se da dica acima, compre de quem está do lado de cá. A outra forma, é destruí-los.

– Saia de lugares que não te cabe! Se a cidade te explora e te devolve muito pouco, inverta isto. Se mude, vá para lugares que exista ainda ar para respirar e que você não tenha que pagar por tudo, onde você possa interagir e aprender com outras culturas de resistência.

– Se una a outras lutas, diferentes da que você está. Troque com as pessoas, se permita aprender sobre outras realidades e demandas, apoie quantas lutas conseguir, pois no fim a luta por liberdade é coletiva.

– Apoie povos originários e comunidades de povos que vem sendo explorados. Apoie suas lutas, esteja junto, reforce o lado de cá.

– Cuide da sua saúde, como já falamos antes, tudo que o lado de lá quer é nos adoecer, faz parte da estratégia de guerra, envenenar nossa comida, nosso ar e nossa agua. Saia de lugares com o ar poluído, nade em rios limpos, compre comida sem veneno. Aprenda com as pessoas mais velhas sobre como cuidar de diversas doenças com remédios da mata, com uma conexão com a mata.

– Roube das grandes lojas, roube dos ricos, eles nos roubam o tempo todo, a riqueza deles foi conseguida com base unicamente na exploração, a nossa exploração.

– Insira aqui as suas demandas e façamos este manifesto caber anseios e necessidades de todo o povo do lado de cá!

Exigimos liberdade, exigimos vida, e enquanto esta guerra existir seguiremos sendo aquelas que ocupam casas abandonadas, que produzem a nossa própria arte, que cultua o apoio mutuo, que roubará dos ricos, que boicotará empresas que destroem as pessoas, a floresta e toda sua diversidade. Seguiremos sendo a resistência e a mão estendida para quem já lutou a vida inteira e que não tem a opção de não lutar. Faremos, explicitamente, o lado de lá saber que o lado de cá jamais baixará a cabeça e que um dia podem acordar com suas vidas em chamas.

Consiga um litro de gasolina, uma garrafa e um pano. Coloque fogo em tudo que te impede de viver. Coloque fogo neste coração rebelde.

Sinta e viva intensamente!

Freedom is non-negotiable – A manifesto for life!

“Whoever lays his hand on me to govern me is a usurper and tyrant, and I declare him/her my enemy.”

Pierre-Joseph Proudhon

This statement was uttered by Proudhon in the 19th century and it will soon reach its 200th anniversary. We could use it to argue that we have lived in a controlled, imprisoned manner for a long time and this would be no illusion or lie. However, we use it because we feel that its meaning is part of the things we believe in, and we know, unfortunately, that control over our lives has been in place for much longer than that. All it takes is a brief glance at our history, just a brief glance. If you are on this side of the trench, you will see it. You will see that indigenous people have been abused and slaughtered since the Portuguese invasion in Brazil; you will see that black people were kidnapped, raped and brought to Brazil to be enslaved. Only through these two examples, we can see how life outside the logic of production, of capitalism, has been fought and aimed to be exterminated.

A war, which has been declared centuries ago, has been in progress. This war is against those who live in the forest, alongside the forest; against those who live in communities and support each other; against those peoples and cultures that are not profitable to the other side of the trench. This wicked war is against people and cultures that follow different agendas: the agenda of the good life, the agenda of enjoying life, of swimming whenever one feels like it, of wandering, of joy, of refusing to be enslaved.

And when we speak of slavery, we speak of all forms of exploitation, of our bodies and minds.

Living in a different manner is absolute resistance!

Have you ever thought about how would you really like to live? It is not about a good holiday or a weekend to boost our energy, when you smile on Friday and numb yourself on Monday in order to bear the week that has just begun, very badly, by the way. We are questioning something that applies to all the moments of life and not only to specific and sporadic moments. Besides, holidays are a privilege for some people, because most of us work every day in order to be able to, basically, eat.

Have you ever been able to imagine a life outside the logic of capitalism or a life devoid of obligations which do not concern us?

Whenever we pause and reflect upon how our lives could be, we usually wonder about simple things such as waking up peacefully and walking through the forest or along our neighbourhood; stopping to appreciate our surroundings, the landscapes or the sea; living in harmony with the beings that inhabit the Earth; picking up fresh fruit directly from the trees; talking to the people around us; reading a book and having fun alone or with other people.

Unfortunately, all this only happens a few times in our lives and we dedicate most of it to daily obligations. Classrooms, offices, crowded subways and buses, bank bills, sleepless nights and often putting off living what we really want until we have more time, more money or waiting for a moment that will probably never come.

We have led a controlled life: polished, shaped, refined, castrated, trained. Capitalism deprives us of our sparkle under the illusion of a happy life. It takes the beauty out of everything and standardizes our feelings and our bodies. Is this what we are alive for?

We want all people to experience life with intensity but with no hurry: the gentle lightness of the sea breeze; the true taste of a freshly harvested food; the beat of a song to its end; a tear following a loss or pain until our body heals.

We are not on display or on call. We have no expiration date and no limits on our abilities. We are powerful beings and we want to take control of our full strength. This imposed life will not define, classify or label us.

May our dreams and feelings be shared with others in solid relationships of support, cooperation and not competition.

If they have declared war, let us be the resistance and disturb them wherever possible!

And the question which now follows is: How can we put this into practice if we can barely breathe?

We can start with a simple opportunity, and if it doesn’t arise, we shall build it.

For starters, keep in mind that we are all on this side of the trench. We are the ones who need to build our support network.

 

– Plant your food if you are willing and able! If you don’t have a piece of land, or do not wish to plant, buy from your neighbourhood, from cooperatives, from the people, from local farmers’ markets, seek alternatives for your food, because the other side has always wanted us to be sick.

– Work for yourself! We often think that it is difficult or impossible, but many people who live in Brazil already live this way: no bosses or employees in enslaving companies. Remember that every company is enslaving because it exploits us and steals our lives in exchange for crumbs, regardless of how much the salaries or benefits are.

– Support self-made initiatives. If we don’t support each other, the other side will occupy this space and profit from it. Therefore, if you have to buy something, buy from people in your community or exchange it for something you have and no longer use. Remember, we depend on each other. All we have is each other and without mutual support, our struggle is weakened.

– Break banks! One way or another, break banks. We can do it by never using them, setting up solidarity banks or taking loans and never paying, using credit cards, all your limit and never paying. In Brazil, within 5 years your credit will be available again. And, if you are going to use a credit card, remember the previous tip, buy from those who are on our other side. The other way is to destroy them.

– Leave places that do not suit you! If the city exploits you and gives you very little back, reverse it. Move, go to places where there is still air to breathe and where you don’t have to pay for everything, where you can interact and learn from other cultures of resistance.

– Join other struggles, different from the ones you are in. Exchange with people, allow yourself to learn about other realities and demands. Support as many struggles as you can, because, in the end, the struggle for freedom is collective.

– Support indigenous peoples and communities of peoples who have been exploited. Support their struggles, stand with them, be on their side.

– Take care of your health. As we mentioned before, the other side wants us to be sick. It’s part of the war strategy: poisoning our food, our air and our water. Leave places with polluted air; swim in clean rivers; buy organic – non-poisonous – food. Learn from the elders about healthcare through the remedies from the forest, in connection with the forest.

– Steal from big companies and shops. Steal from the rich. They have stolen from us all the time. Their  wealth has been obtained, solely, through exploitation, our exploitation.

– Insert your demands here and let’s build this manifesto in a manner that fits yearnings and needs of all the people on this side!

We demand freedom. We demand life. As long as this war goes on, we will continue to be those who occupy abandoned houses; who produce our own art; who cultivate mutual support; who steal from the rich; who boycott companies that kill people, the forest and all its diversity. We will continue to be the resistance and the hand extended to those who have fought all their lives and who do not have the option not to fight. We will explicitly make sure that the other side knows that this side will never give up and that one day they may wake up with their lives on fire.

Get a litre of gas, a bottle and a cloth. Set fire to everything that prevents you from living. Set fire to this rebellious heart.

Feel and live intensely!